O jornalismo é uma das profissões que mais atraem os estudantes. A ideia de viajar, conhecer outros países, ter contato com culturas diferentes, ouvir histórias de pessoas interessantes, ir a shows, escrever sobre eventos, ter seus textos publicados nos meios de comunicação e ainda ser pago para isso atrai uma quantidade enorme de pessoas que iniciam sua carreira e anseiam em se tornar grandes nomes do jornalismo.

Todos os anos um número enorme de profissionais chega ao mercado de trabalho e se depara com uma realidade diferente daquela idealizada. Poucas vagas, muito trabalho e um salário aquém do esperado são apenas alguns dos problemas. Mas mesmo assim a profissão continua atraindo os apaixonados pela área.

E como o assunto é tão extenso o Deu Tilt bateu um papo com Giselle de Almeida, a jornalista carioca de 26 anos é uma das que se entregaram de corpo e alma ao jornalismo. Giselle trabalha como repórter do Sessão Extra, o caderno de cultura do jornal popular Extra, cujo foco principal é televisão, música, cinema e teatro. E em meio a vida atarefada de jornalista ela ainda consegue tempo para manter seu blog atualizado, o Comentar é preciso, onde escreve sobre filmes e séries.

Na entrevista que você confere a seguir comentamos sobre o mercado de trabalho, a internet como uma ameaça, as novas tendências da imprensa e, é claro, reservamos um tempo para conversar sobre a sétima arte, outra paixão da nossa entrevistada.

Confira a entrevista na íntegra. Leia, prestigie e, no final, vença a preguiça e deixe seu comentário.

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Giselle de Almeida

Deu Tilt: Pode nos contar um pouco sobre você? Quem é, onde cursou e há quanto tempo está no jornalismo?
Giselle de Almeida: Sou carioca e tenho 26 anos. Fiz faculdade na Uerj e me formei em 2004 (como o tempo passa rápido!). Se contarmos meus estágios e tudo, já são quase oito anos na profissão, em diferentes áreas: comunicação interna, assessoria de imprensa, diagramação e reportagem.

Por que escolheu a carreira de jornalista?
GA:
É engraçado, porque até meados do segundo grau (é, na minha época se chamava assim), eu não tinha muita certeza de que carreira seguir. Durante algum tempo, pensei em Letras, porque adoro estudar idiomas e pensei em trabalhar como tradutora. Acho que a opção pelo jornalismo surgiu porque sempre gostei muito de ler e escrever, mas isso é só uma parte da profissão. Jornalista tem que ser curioso e gostar de contar boas histórias. No fundo, queria ser uma mistura de Zeca Camargo e Glória Maria: viajar o mundo conhecendo novas culturas e descobrindo histórias interessantes de pessoas. E ainda ser paga para isso! Ainda não cheguei lá, mas… Quem sabe (risos)?

Ano passado o Supremo Tribunal Federal decidiu pela não obrigatoriedade do diploma de jornalismo para exercício da profissão. A decisão gerou polêmica e protestos por todo o país. Qual a sua opinião a respeito do assunto? O diploma é mesmo desnecessário?
GA: Essa é uma pergunta difícil. Como todo mundo sabe, durante muitos anos jornalistas eram formados na prática. E acho que o dia a dia da profissão é mesmo a melhor escola. Digo isso porque eu, até pisar em uma redação pela primeira vez, não fazia ideia de como funcionava um jornal de verdade. E nenhuma definição de lead (a abertura da matéria, com as informações essenciais, o quê, quando, onde, como e por quê) na faculdade foi tão eficiente quanto o conselho de um dos meus primeiros chefes: “Escrever uma matéria é como contar uma história para alguém”. E aí, o texto que teimava em não sair, surgiu com uma facilidade incrível.

Mas não acredito que a formação acadêmica seja dispensável: a meu ver, é um grande ganho para a formação intelectual do jornalista. Tem que ler e discutir sim, história, filosofia, sociologia, ética e tudo mais que puder. Aliás, isso vale para qualquer carreira. E se a faculdade puder preparar o aluno para a realidade da profissão melhor ainda. E aí sei que depende muito da instituição, se o corpo docente está afastado do mercado há muito tempo, se os laboratórios não estão muito desatualizados… E falo por experiência própria: senti muita falta disso quando fiz faculdade. Hoje, já não sei se as coisas melhoraram, espero que sim.

O que é preciso para ser um bom jornalista? Há algum segredo para elaborar boas pautas e transformar essas idéias em boas matérias?
GA: Olha, isso eu ainda estou tentando descobrir… (risos). Vou dar a minha humilde opinião, pode ser? Tem que ser curioso, observador, bem informado, persistente, paciente… A gente não tem obrigação de saber tudo, mas precisa fazer o dever de casa: pesquisar antes da entrevista é fundamental. Tem que saber ouvir também.

Muitos jornalistas reclamam quanto ao mercado de trabalho. Você que já está na área pode nos dizer sua opinião? O mercado de jornalismo está realmente passando por maus bocados?
GA:
O que eu vejo é muita gente optando pela área de assessoria de imprensa, que, realmente, oferece bem mais opções que as redações ultimamente. Acho que a tendência é um mercado bem mais enxuto mesmo: hoje em dia o profissional não tem só que apurar, mas, muitas vezes, fazer fotos, vídeos, diagramar… Enfim, tem que jogar nas onze [posições]. E o lado ruim disso é que cada vez mais um número menor de profissionais dá conta do recado. E aí as contratações diminuem. Além disso o jornalismo ainda é uma das carreiras mais procuradas nas faculdades. Com o número de gente que se forma todo ano, não há mesmo como o mercado absorver todo mundo.

O advento dos grandes portais de notícias fez com que as redações encolhessem e, em alguns casos, deixassem de existir. Para se manterem vivas algumas publicações migraram parcial ou totalmente para o meio digital. Você acredita que esta pode ser uma nova tendência a ser seguida, a de revistas e jornais trocando o meio físico pelo digital? Ou a mídia impressa ainda possui um bom mercado?
GA: Olha, não acredito que o jornal em papel vá acabar tão cedo, assim como o surgimento da televisão não acabou com o rádio; são meios diferentes, consumidos de formas diferentes. O online tem um atrativo que é a constante atualização, além da possibilidade de oferecer áudios, vídeos e links para assuntos relacionados, ampliando a cobertura infinitamente. Só que não podemos esquecer que nem todo mundo tem acesso a computador, que os mais idosos têm uma certa resistência à internet… Além disso, muitos jornais lá fora começaram a cobrar por seu conteúdo online, o que deve afetar um pouco esse consumo da informação. Acredito que o caminho para a mídia impressa seja o aprofundamento das questões, com opiniões de especialistas, artigos, colunas, mais do que a notícia em si. Nisso, as revistas têm uma certa vantagem sobre os jornais diários, além do fato de que, quanto mais segmentadas elas forem, mais leitores irão atrair.

Com a popularização dos blogs essa ferramenta deixou para trás a velha funcionalidade de “diário digital” e hoje se transformou em uma extensa fonte de notícias. Com isso gerou-se uma discussão quanto ao papel dos blogueiros. Uma pesquisa recente revela que 52% dos blogueiros norte americanos se consideram jornalistas. Você acha que esse sentimento é válido ou que ainda há grandes diferenças entre blogs e o jornalismo?
GA:
Há uma diferença enorme! Blog, pra mim, é lugar de opinião, embora, muitas vezes, traga informação. Às vezes vejo na internet blogueiros que querem dar “notícias” de qualquer jeito, mas só reproduzem o que qualquer portal publica. Isso não é jornalismo. Acho que são meios diferentes, cada um com seu papel.

Em seu blog, o “Comentar é preciso”, você escreve sobre filmes e séries, sua verdadeira paixão. Por que o interesse por essa arte? O que lhe atraiu tanto nessa forma de entretenimento?
GA:
Acho que paixão não se explica, né? Assim como tem gente que é vidrada em futebol, eu adoro ver filmes. Amo ir ao cinema, é um dos meus programas favoritos. Mas, como não consigo dar conta de tudo, não dispenso uma locadora. E quem gosta mesmo de cinema adora trocar impressões sobre o que acabou de ver. Por isso criei o blog, que não é exclusivo de cinema, mas acaba falando muito sobre o assunto. E o bom do blog é que não tenho responsabilidade de um crítico, por exemplo. Posso falar sério ou fazer um comentário mulherzinha. Liberdade total!

E já que estamos falando do assunto, há algum filme que você, cinéfila incurável, aconselha a todos os nossos leitores?
GA:
Olha, não sou muito de indicar filmes, porque acho que isso vai muito do gosto de cada um. Posso citar clássicos desde O Poderoso Chefão até Star Wars, mas cinema, pra mim, não é obrigação. Gosto muito dos filmes de diretores como Hitchcock, Woody Allen e Almodóvar. Sou fã de Tim Burton, por exemplo, mas sei que tem gente que não curte.

Com toda sua experiência quais os conselhos para quem está começando na profissão?
GA:
Menino, assim as pessoas vão dizer que eu sou uma velha (risos)! Apesar de estar há um tempinho na profissão, ainda sou uma iniciante, de verdade. Um conselho? Prepare-se para ralar muito, inclusive em fins de semana, feriados e dias santos.

Leonardo Marinho é apaixonado por games, viciado em tecnologia e apreciador de todas as formas de entretenimento. Quando possível ele tenta ser gamer, manter o Deu Tilt atualizado e levar uma vida normal. Sua consciência ainda não foi afetada pelas intempéries do tempo e ele aproveita essa façanha para redigir textos coerentes para o Deu Tilt. Ele faz o que pode…

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