"Não, aqui não é de nenhuma pizzaria... Espera um instante, como você achou essa frequência?"

Você faz parte dos fuzileiros navais norte-americanos, constituindo uma super-elite de soldados que lutam por liberdade e justiça. Seu batalhão é mandado para conter um levante pago por terroristas no Oriente Médio contra um país democrático mas depois de muito conflito a verdade vem à tona: tudo era bancado por uma facção segregacionista do exército russo, que querem vingar o que os americanos fizeram contra a sua “motherland”. Seu batalhão parte para enfrentar os russos em uma base super-secreta na Sibéria, de onde eles planejam lançar um ataque nuclear contra Wall Street. O fogo é intenso e só depois que o seu melhor amigo, com uma baita cicatriz na cara, faz um sacrifício heróico, você consegue chegar no líder inimigo, onde o derrota em uma batalha cheia de explosões, slow motion e efeitos especiais. Esse é o enredo do próximo Call of Duty que chega nas lojas no final desse mês! Mas espere… Não era Battlefield? Ou seria Medal of Honor?

Se você tem a sensação de que já leu o provável enredo que está acima não precisa se sentir mal, você não é o único. Em uma jogada de marketing simplesmente genial para cobrir o seu novo jogo, BulletStorm, o pessoal da Epic Games desenvolveu o Duty Calls. O nome já diz exatamente a proposta do game, que é nada mais do que fazer uma paródia do roteiro e de elementos de grandes clássicos do FPS.

"Temos que matar Fulanovsk e recuperar a bomba!" "Senhor, não matamos ele no jogo anterior?" "Não, aquele foi Ciclanovsk."

Em Duty Calls você é um super soldado genérico que, após receber um pedido por radio de seu superior, é incumbido da missão de salvar o mundo e parte em uma pista de obstáculos intitulada “grande cenário realista de batalha”. O jogo é uma grande sátira de tudo que você sempre vê nos FPS, desde a cena de slowmotion, até o cara que você não pode matar porque está no meio de uma cutscene e o amigo que morre antes de contar uma grande revelação só para aumentar o drama do game. Tudo isso em incríveis cinco minutos. Você joga um FPS inteiro com todos os clichês que insistem em se repetir em apenas cinco minutos, e com os personagens falando mal das próprias cenas. Destaque para o sistema de rankings que parece não ter fim e com títulos cada vez mais bizarros como “Sargento Mestre dos Sargentos Pessoa Mais Importante dos Sargentos Extremos ao Máximo”. Ou algo parecido…

A engine é bem simples e a dublagem não é espetacular, mas isso é justificável, já que a impressão que eles desejam passar é justamente o fato do jogo ser monótono e previsível, ao ponto de alguns soldados inimigos pularem na frente do personagem e gritar “olha só, eu sou um inimigo” ou então a cada disparo que você dá e o personagem dizer “Boring” (chato). Os gráficos lembram bem os primeiros games da série Call of Duty, sem grandes filtros, efeitos e texturas que deixem a experiência visualmente linda, mas são o suficiente para segurar os cinco minutos da experiência, já que na verdade o game está mais perto de um outdoor do que um jogo de verdade.

A dificuldade é inexistente, já que todo dano é premeditado e seu personagem jamais irá morrer. Em alguns momentos os inimigos surgem e atiram em você até que a tela se encha de sangue, como na série Call of Duty, mas isso apenas acontece para se ouvir a gozação “Bloody scream, so real” (Grito sangrento, tão real), em seguida você está livre para largar o dedo no inimigo, que não fará simplesmente nada para se defender.

Pois é, nem sempre os últimos chefes são tão interessantes...

No final você dá de cara com o vilão em sua base ultra secreta. Ele se apresenta como o líder dos terroristas e justifica seu posto pelo fato de falar com um sotaque russo, usar um tapa-olho e uma roupa super maneira. O rechonchudo tem a posse de uma arma nuclear e jura jamais entrega-la a ninguém. Ele logo desiste da idéia quando seu soldado pede gentilmente para que devolva a arma aos Estados Unidos. No final todos celebram enquanto fogos de artifício e bandeiras norte-americanas saltam dos dedos de seu soldado. É curto, engraçado, e bizarro, mas foi essa a idéia que game deveria passar. Missão cumprida.

Só podiam fazer o favor de incluir mais algumas fases pra estender um pouco a brincadeira. Por quase 800MB de download era o mínimo que podiamos esperar. Levando em conta que o jogo é leve o suficiente para a maioria dos usuários e inteiramente de graça, é uma grande pedida para qualquer fã de FPS que quer rir da própria desgraça. Afinal, FPS é descendente direto dos filmes de ação: tem o mesmo enredo, as mesmas cenas, nós sabemos como vai acabar e mesmo assim  não conseguimos parar de adorá-lo.

Carioca e nerd de raiz, cursa Ciências da Computação na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói.

Seu primeiro vídeo-game foi um Master System III, passando por Super Nintendo, PlayStation e Playstation 2. Atualmente, quando longe do PC, depende de seu bravo Dingoo A320 para manter a jogatina viva.

Viciado em RPG, vídeo-game, anime, internet ou qualquer outra fonte de cultura nerd desde que era um embrião, tenta cultivar todos os seus vícios ao mesmo tempo e acaba sobrando pra cima dos estudos, família e convívio social. Se deixar vira um eremita.