A retrospectiva gamer 2010 do Deu Tilt chega ao fim tratando de um assunto que muito nos interessa. O Brasil dos games está em foco desta vez, fechando com chave de ouro essa nossa sequência de posts especiais de fim de ano. Se você ainda não leu as outras duas partes da retrospectiva não perca tempo, aqui está a parte 1 e a parte 2. Vai lá, eu te espero.

Esse foi um dos anos mais proveitosos para nós, gamers brasileiros. Recebemos lançamentos totalmente localizados, eventos que estão crescendo cada vez mais e chamando a atenção do público internacional, produtos que, finalmente, chegaram em terras tupiniquins, dentre outros grandes acontecimentos e iniciativas.

Em meio a tudo isso podemos ter uma certeza: O Brasil está, definitivamente, no mapa mundial dos games. E se você ainda duvida e acha que estas são apenas palavras de um blogueiro animado então confira comigo tudo que aconteceu de mais importante na indústria dos games nesse país ao longo do ano.

Fizemos grandes avanços, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. Que 2011 seja ainda melhor. E pelo visto será, não acha?

Vejamos o que rolou nesse nosso Brasil dos games em 2010…

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Starcraft II totalmente em português

Quando falam de Starcaft II comumente dizem que o game foi traduzido para o nosso idioma. Gosto de pensar que aconteceu algo mais. Na verdade o game foi completamente refeito em português do Brasil. Não só os menus e diálogos foram traduzidos, mas também todas as Cgs e a sincronia labial dos personagens foi adaptada. O resultado final é um excelente trabalho, digno de aplausos.

Não bastasse o jogo em português a Blizzard ainda foi inteligente e cautelosa para tratar com cuidado especial um dos males da nossa indústria: o preço. Starcraft II foi lançado em diversos pacotes, cada um com peculiaridades e preços únicos. Para os mais abastados e fãs da franquia é possível comprar a edição de colecionador, custando elevados R$ 599,00 e que conta com DVD de documentários, trilha sonora, livro de ilustrações e outros mimos. Já a versão padrão trazia apenas o game, por R$ 49,00. O jogo ainda foi lançado no Brasil simultaneamente com o resto do mundo. Um lançamento desse calibre, totalmente em português e por um preço muito abaixo do normal foi um verdadeiro tapa na cara da pirataria, os jogadores provaram que fazem sua parte quando as condições são favoráveis e o game vendeu horrores aqui no Brasil.

A Blizzard demorou 12 anos para lançar a sequência de Starcraft e os gamers já não aguentavam mais a espera. Mas no final, valeu a pena e a empresa soube cuidar muito bem de sua franquia. Starcraft II é mais robusto, belo e ambicioso do que seu antecessor. Destaque para as cinematics e a ambientação magnífica criada pelo jogo gerando uma imersão fabulosa.

Starcraft II ocupa com maestria o lugar de um dos grandes lançamentos do ano, mas também merece reconhecimento como item marcante do nosso Brasil dos games em 2010, por toda a atenção e dedicação da Blizzard para com o público brasileiro. Que venham muitos outros lançamentos como esse.

Mais: Confira a entrevista com Steve Hout, diretor de operações da Blizzard para a América Latina.

Brasil Game Show

Eventos de games no Brasil nunca deram muito certo. Alguns não conseguem patrocínio para se manter ao longo dos anos, outros pecam pela ausência de atrações e no fim quem sofre é o gamer brasileiro que fica carente de realizações do tipo. Entretanto, o Brasil Game Show teve sua terceira edição realizada esse ano e agora definitivamente faz parte do calendário gamer nacional.

O evento, que começou conhecido por Rio Game Show, fez seu debut de maneira singela (e mal organizada) em 2008 e desde então não parou de crescer. A organização aprende com seus erros a cada ano e isso se reflete em um evento que melhora e surpreende a cada edição.

Desta vez o Brasil Game Show contou com a presença da Sony, que adicionou belas atrações como o PSMove e tecnologia 3D, além da Blizzard, com seu torneio de Starcraft II e a presença de outros estandes de diversas empresas do setor de entretenimento. Ao longo dos dois dias de evento era possível jogar lançamentos, assistir palestras e bater um papo com gente importante da indústria nacional e internacional. Não só a imprensa marcou presença forte, com veículos especializados e mainstream, como também o público de mais de 15 mil visitantes de todo o Brasil em um só dia.

Para o próximo ano Marcelo Tavares, o organizador do evento prometeu 5 dias de duração, 2 voltados especialmente para palestras sobre mercado e desenvolvimento de games e 3 dias de feira com o dobro do espaço atual, e ainda a presença da videogames Live no último dia de evento. As promessas são boas e a edição desse ano só reforçam ainda mais a expectativa.

Mais: Confira a cobertura completa do Brasil Game Show 2010.

Xbox Live Br

A Xbox Live já existe há mais ou menos 4 anos e é inegavelmente o grande atrativo do Xbox 360. Entretanto, a Live brasileira sempre pareceu um sonho distante de todos nós. Por isso, desde seu lançamento nos Estados Unidos, os brasileiros se cadastram no serviço usando endereços norte-americanos e pagando pelo conteúdo usando cartões de crédito internacionais. Como sempre, o jeitinho brasileiro entrando em ação.

Esse ano, finalmente, a Live verde e amarela deixou de ser promessa e virou realidade, causando euforia e gerando bastante expectativa. Um dos pontos de maior polêmica foi quanto a migração de contas, algo até então nunca realizado. O jogador pode simplesmente migrar sua conta da Live americana para a brasileira garantindo assim que nenhum de seus dados sejam perdidos. Um alívio para os mais viciados.

Entretanto a rede nacional ainda enfrenta alguns problemas como a falta de conteúdo. Se a Live americana acumulou uma quantidade considerável de DLCs, demos, vídeos, jogos e etc. A versão tupiniquim do serviço prova que ainda teremos muito o que esperar para ter ao menos metade disso tudo. Pelo menos já começamos, não?

A versão brasileira conta ainda com suporte aos cartões de créditos nacionais e a assinatura Gold de um ano custa apenas R$ 89,00. Um preço baixo a se pagar por todas as vantagens que a Live te proporciona.

Escritório da Blizzard em São Paulo

Starcraft II foi o primeiro game da empresa do qual seu escritório em São Paulo ficou encarregado de trazer ao Brasil. A Blizzard decidiu que já era hora de investir no mercado brasileiro e optou por montar um escritório por aqui para cuidar do relacionamento com a imprensa e a comunidade de jogadores, dentre outros afazeres. E tem dado certo, não acha?

Segundo Steve Hout, a coisa é séria, “Temos pesquisado a América Latina nos últimos 18 meses e achamos que este mercado nunca foi tratado como merece. Vamos mostrar o ‘jeito Blizzard’ de fazê-lo”, disse o diretor de operações para a América Latina ao site Uol Jogos.

Quando conversei com Steve Hout, durante a Brasil Game Show era possível perceber seu apreço pelo público brasileiro e uma verdadeira boa vontade em disponibilizar todo o suporte e conteúdo da Blizzard aqui no Brasil. A empresa tem atuado com muita cautela e estudou bem o mercado antes de agir. Prova disso foi o lançamento de Starcraft II com tudo que os gamers sempre sonharam.

Sem dúvidas a Blizzard marcou muitos pontos com os jogadores brasileiros e mostrou a todas as empresas do setor a melhor maneira de iniciar seus negócios no Brasil. Somos um mercado carente e com condições pouco favoráveis, o que demanda medidas peculiares de negócio. Tomara que a Blizzard seja a primeira de muitas a entender o mercado nacional.

Ubisoft anuncia o encerramento de desenvolvimento de games no Brasil

Eles também não gostaram da notícia...

Infelizmente nem só de notícias boas viveu nosso Brasil dos games em 2010. Em setembro a Ubisoft divulgou um comunicado oficial anunciando a diminuição de suas atividades de desenvolvimento de games no país até o fim do ano.

A mudança de planos ocorreu pois “as atuais condições do mercado brasileiro não permitiram a empresa alcançar as metas inicialmente estabelecidas para os estúdios”, dizia o comunicado.

Certamente um passo para trás na área de desenvolvimento de games no Brasil. Entretanto, com tantos estúdios independentes surgindo a todo momento é apenas questão de tempo até que tenhamos games brasileiros sendo vendidos lá fora com ares de superprodução. Seria bacana, não?

E antes de citar somente a carga tributária e falar mal do Estado, uma outra condição desfavorável que levou a Ubisoft a tomar essa decisão pode ter sido a baixa mão-de-obra realmente qualificada para a indústria de games no Brasil. Fazer um curso e jogar videogame 10 horas por dia não garante que você seja um bom profissional. O Brasil também produz muitos artistas e designers, deixando uma grande carência de programadores na área.

Apesar do pronunciamento, Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft Brasil, afirmou que a empresa não fechará suas portas, mantendo o foco apenas na distribuição e venda de jogos no país.

Linha Playstation oficialmente no Brasil

Após aproximadamente 4 anos de espera, finalmente o Playstation 3 foi lançado oficialmente no Brasil, assim como toda a linha Playstation (PS2, PS3 e PSP). O aparelho, que antes só podia ser comprado via importação ou mercado ilegal, agora está disponível em lojas de varejo por todo o país.

E a Sony não está poupando esforços para difundir seus consoles. A empresa está investindo pesado no marketing em postos de vendas, e, segundo palavras de Anderson Gracias, gerente da divisão Playstation da Sony Brasil, eles estão “Ensinando os lojistas como vender videogames”. Para Anderson o principal problema é que a forma de venda dispensada aos games não pode ser a mesma dos eletrônicos convencionais, em uma prateleira de vidro e sem qualquer interação. “O jogador tem que tocar o produto, experimentar, jogar e se divertir para então ter certeza de que vale a pena investir no console. E a maneira como os lojistas fazem atualmente não possibilita essa experiência”, disse em sua palestra durante a Brasil Game Show. Nesse sentido a Sony Brasil oferece equipamentos e treinamento para que lojistas façam uma divulgação eficaz e aumentem as vendas.

O Playstation 3 também passou pela aprovação da Anatel e recebeu algumas modificações para ser vendido em território nacional, desde os cabos até manuais e caixa. Comprando nos revendedores oficiais o jogador ainda conta com garantia de um ano e suporte telefônico, garantindo um atendimento pós-venda.

Mas como nem tudo são flores, o problema dessa linda história é, novamente, o preço. O console é vendido por nada menos que R$ 1999,00 (corte o eufemismo, são R$ 2 mil reais, né?). Após o anúncio oficial uma chuva de reclamações, críticas e raiva desenfreada inundou sites, fóruns e blogs pelo Brasil. Tanto que a própria Sony se pronunciou dizendo que o preço foi o menor possível e a empresa não está tendo margem em cima das vendas do console.

Foram entrevistas e mais entrevistas, uma série de reclamações e aquele típico momento em que todo mundo mostra que sabe fazer conta e entende muito bem de economia. Mas a Sony bateu o martelo e o preço foi esse mesmo.

Essa é a primeira vez que temos as 3 grandes empresas de games agindo oficialmente no mercado brasileiro (com exceção da Nintendo, que ainda atua indiretamente, pela Latamel). Apesar dos preços ainda elevados dos consoles e algumas falhas menores temos que admitir que o gamer brasileiro nunca recebeu tanta atenção. E isso, se você ainda não percebeu, meu caro leitor, é um ótimo sinal… Sem dúvidas.


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Mas afinal, foi ou não foi um belo ano para nosso Brasil dos Games? Lançamentos, eventos e uma maior proximidade com as publishers. Vamos torcer para que isso seja só o começo.

E assim chegamos ao fim da retrospectiva gamer 2010 do Deu Tilt. Agradeço a você, leitor, que teve a paciência e o carinho de ler todos esses 3 posts imensos. Sou verborrágico, você já me conhece. Espero que tenha gostado. Quem sabe a retrospectiva de 2011 não seja ainda melhor?

Agora passo a bola pra você, que fatos marcaram o mundo dos games em 2010 na sua opinião? Foi um ano realmente proveitoso? Será que esqueci de alguma coisa importante? Fique a vontade para soltar o verbo nos comentários. Vale até mesmo uma mensagem bonitinha de fim de ano. Afinal de contas o espaço é seu.

No próximo post voltamos a programação normal.

Leonardo Marinho é apaixonado por games, viciado em tecnologia e apreciador de todas as formas de entretenimento. Quando possível ele tenta ser gamer, manter o Deu Tilt atualizado e levar uma vida normal. Sua consciência ainda não foi afetada pelas intempéries do tempo e ele aproveita essa façanha para redigir textos coerentes para o Deu Tilt. Ele faz o que pode…

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