As crises econômicas são elementos intrínsecos a toda e qualquer economia capitalista e que tornam-se mais agudas na medida em que a globalização interliga os mercados a nível global e faz com que o capitalismo se expanda. Desde o segundo semestre de 2007 os Estados Unidos vem sofrendo o que analistas chamam de “a maior crise econômica desde a década de 30”.

O Fed (Banco Central dos Estados Unidos) há anos se esforça para evitar uma recessão econômica no país fazendo esforços para manter a economia norte americana sempre aquecida. Porém, não consegue impedir o aumento dos déficits. Quando os déficits aumentam ocorre um sério risco de recessão e deflação e, para contorná-los, a tendência é que se desvalorize a moeda nacional. Entretanto, no caso dos Estados Unidos tal política não impediu o que os déficits aumentassem.

Analistas culpam a equipe econômica do governo Bush, falando em uma inadequação com as relações globalizadas, e afirmam que boa parte da culpa vem dos esforços econômicos realizados pelo país com gastos militares em uma guerra infinda.

A chamada “Bolha imobiliária”

Há dois tipos de taxas de juros, os chamados prime. Temos a prime rate que é a taxa de juros básica, utilizada por bancos comerciais em empréstimos a clientes preferenciais. Por outro lado a subprime é uma espécie de crédito de segunda linha, concedido a clientes que possuem maior risco de inadimplência e, portanto, com juros mais elevados.

O crescimento dos déficits fez com que o Fed tomasse diversas medidas as quais levaram a um excesso de liquidez no mercado estadunidense, gerando um aumento nos créditos e levando ao uso exacerbado dos empréstimos de altíssimo risco, as subprime. Essa expansão do crédito imobiliário serviu para manter a economia interna aquecida, pois movimentava a indústria de construção, gerando empregos diretos e indiretos.

Entre 2005 e 2007 as taxas de juros começaram a subir e então as coisas se complicaram, especialmente nos financiamentos a longo prazo, como é o caso das hipotecas. O desastre da inadimplência acertou em cheio o mercado norte americano, afetando duramente suas bolsas de valores entre julho e agosto de 2007. O fenômeno se espalhou por todo o mundo, o que obrigou os bancos centrais de países ricos a injetarem moeda no mercado a um custo mais baixo para evitar uma crise financeira geral.

Formou-se assim a “bolha imobiliária” norte americana, que ao estourar trouxe sérias consequências a economia.

A “bolha imobiliária” não foi a causa da eventual crise, na verdade, ela é efeito dos perigos que a economia norte americana vem enfrentando há anos, sobretudo dos crescentes déficits interno e externo.

A crise

A “bolha imobiliária” formou-se a partir da expansão de crédito concedido para que as pessoas comprassem ou melhorassem seus imóveis entre 2001 e meados de 2004. A expansão foi tão ampla que vários agentes do mercado passaram a realizar empréstimos considerados de altíssimo risco. Com o estouro da bolha, devido a inadimplência, as instituições financeiras que bancaram esses empréstimos tiveram sua solidez econômica duramente afetada. Outro problema é que, como os títulos são renegociados entre essas instituições as coisas chegaram ao ponto de que o mercado já não sabe mais quais instituições financeiras detêm esses títulos de empréstimos.

A queda nos preços das residências gerou uma forte estagnação nas vendas imobiliárias nos Estados Unidos. Pagando uma prestação mais alta e com o valor do imóvel cada vez menor, os americanos reduziram o consumo, o que afeta de forma negativa economias de todo o mundo.

Dados revelados em agosto registram queda no número de empregados, algo que não acontecia há quatro anos, devido as demissões imobiliárias e o aumento na classificação de risco do banco Bear Stearns.

Com a atual crise os Estados Unidos perderam mais que o PIB brasileiro somente no primeiro trimestre de 2008 (cerca de US$ 1,7 trilhão). A crise se reflete no salário médio do trabalhador, que cai desde outubro de 2007. A taxa média de criação de empregos de 2007 até junho de 2008 é de 0,14 ao mês, dez vezes menor que a apresentada 12 meses antes da crise.

De setembro de 2007 a abril de 2008 foram sete os cortes consecutivos na taxa de juros básica realizados pelo Fed. A taxa de juros caiu de 5,25% para 2%. Com a redução exagerada de juros a moeda norte americana sofre desvalorização, enfraquecendo o dólar. O mais provável, segundo analistas, é que o consumo caia e os americanos tenham que conviver com a recessão combinada com consideráveis pressões inflacionárias.

A queda no consumismo é perigosa em um país onde o consumo das famílias responde por dois terços do cresimento do seu PIB. Outro fator que agrava a crise é que o consumo das famílias e do governo americano vem sendo financiado com capital estrangeiro. Com isso a saúde financeira norte americana depende hoje, muito mais que no passado, de seus parceiros comerciais.

Porém, todos esses fatores estão longe de representar a ruína dos Estados Unidos e sua retirada da posição central que ocupa atualmente na economia mundial.

A crença de analistas é que a única forma de evitar uma recessão é a produtividade da economia se manter forte, os mercado financeiros reconquistarem a confiança e o preço do petróleo cair.

Roberto Macedo escreveu que “essa crise financeira não tem um ‘day after’, ou um dia seguinte, mas muitos dias depois, ainda incontáveis e insondáveis.”

Histórico da crise

  • Março de 2007 – Início da crise, indice Dow Jones cai 2% graças ao temor da inadimplência das subprime;
  • Junho de 2007 – Prejuízo em dois fundos de alto risco do banco Bear Stearns, que posteriormente entra em colapso e é vendido ao JP Morgam;
  • Julho de 2007 – Anunciada queda nos lucros do segundo semestre de 2006 e redução nas projeções de lucro de 2007 pela maior empresa de crédito imobiliário do país, a Countrywide Financial. As bolsas caem bruscamente;
  • Outubro de 2007 – É criado o Fundo Master de Aumento de Liquidez, de cerca de US$ 100 bilhões para conter o estrago da crise pela compra de papéis de curto prazo que não conseguem compradores e correm o risco de quebrar;
  • Novembro de 2007 – São anunciados os prejuízos do Citigroup com os investimentos em hipotecas. O banco, a maior instituição financeira dos Estados Unidos, encontra-se em situação agravante;
  • Dezembro de 2007 – O presidente, George W. Bush anuncia medidas do governo para conter a crise: congelamento, por cinco anos, das taxas de juros para os financiamentos imobiliários de alto risco;
  • Janeiro de 2008 – Duas reduções, que somam 1,25% jogam a prime rate para 3% com o objetivo de estimular o consumo e os investimentos produtivos;

Atualmente

Como forma de tentar superar a atual situação, o Fed anunciou nesse domingo que aceitou a proposta de transformar o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, os dois únicos bancos de investimento que restam nos Estados Unidos depois da crise, em holdings. Com essa mudança essas duas instituiçoes poderão criar bancos comerciais, os quais poderão tomar depósitos, amparando os recursos de ambas as instituições.

A nota divulgada a imprensa acrescentava que “Para prover mais liquidez a estas empresas durante sua transição a uma estrutura de holding, a direção do Fed autorizou o Fed de Nova York a estender créditos às subsidiárias do Goldman Sachs e Morgan Stanley”

No sábado (dia 20), o governo do presidente George W. Bush propôs um resgate de dois anos ao setor financeiro no valor de US$ 700 bilhões, dando ao secretário do tesouro norte americano autoridade para comprar até US$ 700 bilhões em ativos relacionados às hipotecas para dissipar a atual crise. Tal pacote irá elevar a dívida pública para US$ 11,3 trilhões.

Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, afirma que o pacote de intervenção apresentado pelo governo está errado, pois ataca diretamente a crise imobiliária, que, segundo diz, não é a raiz do problema. Stiglitz culpa a “má gestão” da administração republicana e do Federal Reserve, que não supervisionou corretamente o sistema financeiro e injetou em Wall Street liquidez antes da crise. Em entrevista a Agência EFE, o Nobel de economia disse que “Dirigimo-nos lentamente rumo a um descarrilamento econômico que intensificará os problemas financeiros. À medida que as receitas caírem, os preços da moradia descerão mais e haverá mais despejos de inquilinos. Portanto, estamos dentro de uma espiral e ninguém faz nada para interrompê-la.

Há uma probabilidade significativa de recessão nos próximos trimestres.”

Joseph defende a renegociação das hipotecas como forma efetiva do governo intervir no problema.

Leonardo Marinho é apaixonado por games, viciado em tecnologia e apreciador de todas as formas de entretenimento. Quando possível ele tenta ser gamer, manter o Deu Tilt atualizado e levar uma vida normal. Sua consciência ainda não foi afetada pelas intempéries do tempo e ele aproveita essa façanha para redigir textos coerentes para o Deu Tilt. Ele faz o que pode…

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