Fear Of Missing Out (FOMO): A síndrome da era digital e mídias sociais
Sábado a noite. Me ajeito debaixo das cobertas, ligo a TV e finalmente tenho uma chance de colocar em dia minha lista de filmes que estão há meses esperando para serem vistos. Se eu der sorte ainda consigo jogar um pouco um dos jogos novos que comprei pro meu Xbox 360 e não tive tempo nem de testar. Tudo pronto, essa parece ser uma noite feliz e agradável de descanso. E foi… Pelo menos enquanto durou.
Pego meu smartphone e, durante uma olhada rápida pelo Facebook e Twitter, descubro que alguns amigos se reunem em uma boate a quilômetros de distância. Outros estão felizes participando de uma festa de rua (por que, se está tão frio lá fora?) e alguns aproveitam ao máximo a viagem que estão fazendo, conhecendo outras cidades e até outros países. De repente meus pequenos prazeres caseiros pareciam ter sido esmagados e diminuídos em comparação com o que eu poderia estar fazendo naquele exato momento.
Uma dose pornográfica de possibilidades somada à indecisão e à vontade de fazer tudo e aproveitar ao máximo cada momento tomaram conta de mim. No minuto seguinte eu estava indeciso entre ficar nas minhas cobertas quentes e aconchegantes ou sair correndo em busca de aventura. Afinal de contas a noite é uma criança e há centenas de coisas bacanas esperando para serem feitas.
O que retrato acima não é um caso isolado, é um problema emblemático desta era digital conhecido como FOMO, ou “Fear Of Missing Out” (Medo de estar por fora). E é caracterizado pela dose de ansiedade, indecisão, inadequação e irritação que toma conta das pessoas quando conferem suas redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram, entre outros. A avalanche de informações sobre o que estão fazendo seus amigos, as fotos engraçadas do final de semana ou atualizações de status indicando que estão em algum lugar divertido, fazem com que você se questione o tempo todo “E por que eu também não estou fazendo isso?”.
Para Dan Ariely, professor de psicologia e comportamento econômico na Duke University e autor do livro “Predictably Irrational” esse comportamento ocorre porque nós ficamos com medo de estarmos fazendo as escolhas erradas em nossas vidas e em como escolhemos passar nosso tempo livre. Se você descobre que seus amigos estão se divertindo sem você naquele exato momento quando confere seu Facebook a sensação é totalmente diferente daquela que você experimenta se descobrisse dias depois, enquanto se reúne com eles e comenta como foi seu final de semana. “Você consegue imaginar como as coisas poderiam ter sido diferentes e isso realmente nos motiva a ter comportamentos estranhos” explica Dan.
No final das contas seus amigos nas redes social acabam, de maneira involuntária, se tornando seus piores inimigos.
Quando você já está farto de se sentir assim decide que de agora em diante vai usar suas redes sociais somente para postar as fotos do seu final de semana, comentar sobre o quão maravilhosa está sendo sua viagem ou mostrar a todos os seus amigos os lugares bacanas e as pessoas novas que você conhece todo dia. Esse seu perfil falso pode até fazer com que você se sinta bem, mas desencadeia a FOMO em algum outro amigo seu que absorve essas informações.
Uso a expressão “perfil falso” porque ele realmente é. Ninguém é feito só de momentos bacanas. Ocasionamente você também tem seus dias ruins, seus momentos deprimidos e suas crises de carência. Mas ninguém quer ser amigo de alguém que atualiza seu status com mensagens pessimistas e que parece nunca fazer nada interessante com suas vidas. As pessoas estão em uma disputa, em alguns casos inconsciente, para descobrir quem de nós é o mais feliz, e você não pode ficar para trás, mesmo que isso signifique alimentar um perfil que representa somente uma versão idealizada de quem você realmente é. O mundo precisa saber o quão divertida é a sua vida.
Mas mesmo assim jovens e adultos não conseguem se desconectar. As pessoas permanecem o tempo todo conectadas, conferindo as redes sociais em seus smartphones, tablets, netbooks e qualquer outro aparelho eletrônico que lhes permita saber o que está acontecendo no mundo naquele exato momento.
Você interrompe a conversa durante algum encontro só pra dar uma conferida no Twitter, porque provavelmente tem alguma coisa mais interessante por lá. Coloca a chamada atual em espera e vai atender outra pessoa, mesmo sem saber quem é, porque você não pode perder essa possibilidade de se conectar a alguém e absorver ainda mais informação. Pula de um blog para outro porque o texto, apesar de interessante e informativo, é muito grande e você pode estar perdendo a chance de ler outros cinco textos pequenos, ou até mesmo uma piada. Você não pode perder nada.
Mas você sempre vai acabar perdendo alguma coisa. Alguma informação vai sempre conseguir escorregar por você ou algum programa interessante com seus amigos vai, em algum momento, acontecer quando você não estiver disponível. Não há a mais remota possibilidade de você absorver todas as informações e fazer parte de tudo que acontece no seu círculo social pois o ser humano não foi criado para isso.
Sherry Turkle, professora do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e autora do livro “Alone Together” defende que “Há uma imaturidade na maneira como nos relacionamos com a tecnologia”, para Sherry esse relacionamento “Ainda está evoluindo”. Nós ainda não estamos acostumados com a maneira como a internet nos mantem sempre conectados a tudo e a todos e em como isso afeta nossas vidas. Esse comportamento obsessivo, que faz com que você olhe seu Facebook ou Twitter de 10 em 10 minutos, esperando sempre a próxima atualização pra ter certeza de que não há algo importante acontecendo nesse exato momento que precise de sua atenção é um dos desdobramentos desse estado de imaturidade na nossa relação com a tecnologia e as redes sociais.
Apesar de tudo não é justo culpar somente as redes sociais pela FOMO. Por mais que elas tenham sim, uma parcela de culpa em todo o processo elas não são nada mais do que ferramentas que a internet coloca a nossa disposição. O que realmente faz diferença é a maneira como você utiliza essas ferramentas e que tipo de proveito ou prejuízo você adquire com elas.
A FOMO agora começa a fazer cada vez mais parte de nossas vidas e permear nossos relacionamentos. Esse vício por informação e essa irritabilidade, ansiedade e indecisão, querendo sempre fazer parte de tudo que acontece por medo de estar perdendo tempo ou fazendo escolhas erradas levanta o questionamento sobre qual o resultado final disso tudo. Será que algum dia vamos alcançar a maturidade em nosso relacionamento com a tecnologia e as redes sociais? Ainda é cedo pra dizer e não se sabe ao certo quais os efeitos de tanta informação no nosso dia a dia. Mas não se pode negar que você aproveitava bem mais sua vida quando não ficava o tempo todo preocupado com suas redes sociais ou querendo fazer parte de tudo que acontecia.
Olha, um diagnóstico para a minha doença! rs
Amei a matéria =)
Olha… isso daí é coisa de gente carente. Sério. Ninguém fala "hoje foi um dia ruim, perdi metade do meu braço em um acidente de carro", fala de coisas relevantes…
FOMO é FOME de informação.
Estamos fodidos, meu caro.
A tendência é de mais integração entre ferramentas e, logo, de mais informação disponível.
Excelente reportagem!
Concordo que existe essa dúvida de "será que estou aproveitando o meu tempo da melhor forma?" mas não sei se isso está muito ligado às redes sociais, pelo menos no meu caso.
Ficou muito bem escrita, parabéns. =)
olha soo, ja vo postar hahah
[…] Formada por um público em sua maioria adolescente/pré adulto, 38% sendo de idade entre 16 e 24 anos, é considerada como a plataforma com a audiência mais jovem entre as grandes redes (Facebook, Pinterest, Instagram, Twitter, Youtube, LinkedIn e Google+). De acordo com a Global Web Index, esse público tem um perfil de pessoas que procuram motivações, principalmente em perfis de celebridades, com medo de estar por fora, de não estar fazendo aquilo que seus amigos estão fazendo – F.O.M.O. – Fear Of Missing Out. […]
[…] Okay, já entendemos que o mundo tem cobrado algo muito mais rápido que os 3 milésimos de segundo que eu levo pra digitar todo o meu texto atrasado da matéria da faculdade, seja porque a compreensão estética da minha coluna torta não se alinha às modelos capa de revista europeia que vez ou outra aparece no meu feed, ou porque todo mundo está meio que sofrendo de FOMO: síndrome que faz você sempre ter medo de estar perdendo algo. […]